lundi 4 juillet 2011

CIMARRON

“homem livre”






Sérigraphie. 17 x 26 cm. Francisco Rivero.




Com a Biografia de um cimarrón, Miguel Barnet nos oferece um caso único em nossa literatura: o de um monólogo que escapa a todo mecanismo de criação literária e que, ao mesmo tempo, se inscreve na literatura em virtude de suas projeções poéticas. Ao fazer o idoso Esteban Montejo falar de quanto recordava de sua comprida história, Miguel Barnet, usando alternadamente o caderno de apontamentos e a fita cassete, reconstruiu uma vida tão rica em experiências significativas que nos leva a pensar que, sem o labor do investigador-poeta, tudo isso poderia perder-se. Há aí um gênero de busca e indagação do tempo ido que poderia servir de exemplo para outros trabalhos similares, fim de não se fazer constituído o achado do narrador-testemunho Esteban Montejo, um caso de exceção (mente clara, passados os cento e tantos anos...) do qual se dariam improváveis paralelos.








Porém o resultado desse trabalho, feito com mãos de poeta e rigor de etnólogo, é extraordinário. Do monólogo de Esteban Montejo se poderia extrair todo um conjunto de provérbios, vale dizer: toda uma literatura gnômica. Seu regresso ao mundo da “escravidão abolida”, depois da cimarronada, para encontrar novos métodos de exploração do “homem livre”, está marcado por uma melancolia que muito significa, embora o narrador nunca abaixe a voz ou levante o tom. Suas intuições políticas encerram grande sabedoria. Quanto ao conteúdo poético de seu monólogo, deve-se notar muito especialmente as páginas nas quais nos conta sua vida de cimarrón, rodeado de pássaros (cuja linguagem quase entendia) e de quantas coisas singulares ou maravilhosas se podia ver no monte. A solidão está esmagadoramente expressa nessas páginas do vasto monólogo que, acaso por ser um monólogo, é reflexo de uma solidão total – de uma incomunicabilidade – mais satisfeita com seus próprios devaneios, em seu animismo fundamental, que na fugaz presença de mulheres apenas entrevistas, tão evanescentes como as “bruxas canárias” que aparecem em algum lugar do relato da história.


Alejo CARPENTIER





Sérigraphie. 17 x 26 cm. Francisco Rivero








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